Li hoje um artigo bastante antigo do Eduardo Pitta sobre o lamaçal que liga a Casa da Música à estação de Metro com o mesmo nome, aqui no Porto, junto à Boavista. Enquanto a inspiração não me aparece para escrever os meus posts dominicais deixo aqui um pensamento lateral à situação actual daqueles dois ou três quarteirões da cidade do Porto.
Quem quiser passear pela rotunda entre a Avenida de França e a Casa da Música, poderá repara que uma conhecida instituição bancária tem a sua loja num curioso edifício de dois pisos. Tal edifício é a antiga estação de caminhos de ferro de via estreita (bitola de um metro) que ligava o Porto do inicio/meio do século XX a Matosinhos, Guimarães (com extensão para Fafe) e Famalicão (Via Póvoa do Varzim). Logo após a travessia da Rua 5 de Outubro, ficava, como muitos de nós ainda sabem, a antiga recolha dos carros eléctricos do Porto, onde alguns dos nossos autocarros históricos encontraram também abrigo. Esta proximidade entre uma estação terminal dos caminhos de ferro da Companhia do Norte e a recolha central dos eléctricos veio a ser um dos primeiros casos da tão aclamada intermodalidade da qual o actual sistema de transportes da cidade do Porto é herdeiro.
Mais tarde, o caminho de ferro em via estreita foi desviado no sentido do centro da cidade do Porto (Estação da Trindade) tendo-se construído também a estação da Avenida de França e deixando-se ao abandono a antiga estação da Boavista. Com o passar dos anos as linhas dos eléctricos foram perdendo importância no conjunto dos transportes públicos do Porto, e aqueles dois pilares da primitiva intermodalidade do Porto permaneceram durante anos como oficinas de manutenção e reservatório de peças obsoletas.
A Estação da Boavista foi então transformada em loja bancária e a recolha dos eléctricos foi destruída para construção do mamarracho branco. Neste momento, enquanto nada se constrói, um lamaçal com alguns casarões abandonados é o último testemunho do bom planeamento em termos de mobilidade que ali se materializou.
Sinta-se portanto o Sr. Eduardo Pitta muito feliz por ter passado por aquele local se ter sido esmagado pela memória de um comboio para Guimarães.
Sem comentários:
Enviar um comentário