09 julho, 2006

Fozeiros e Anteiros

Hoje é domingo, dia do regresso à minha crónica dominical do Palavra de Domingo, e dia de comprar o Jornal de Noticias na banca mais próxima.

Tudo isto parecem coisas de um domingo normal, não fosse um pequeno acidente doméstico obrigar-me a ir tomar o pequeno almoço ao pão quente mais próximo. Aliás, nem o acto de comprar o JN é normal para mim, já que prefiro de longe jornais como o Público ou o Expresso, já que também nestes posso aproveitar uma secção de emprego que não se destina apenas à procura de canalizadores, electricistas e mulheres da limpeza (não que tenha algo contra estas profissões, mas apenas porque prefiro ler os anúncios que se referem mais à minha profissão). No entanto, e porque o pequeno almoço me soube melhor que o esperado, decidi dar continuidade à minha promessa de dar mais valor à vida nas Antas em vez de passar o tempo a almejar viver na Foz. Grande erro! Ao fim de umas voltas entre o Marquês e a Alameda fiquei cansado e desejoso por comprar um jornal e rumar a casa.

Agora, quando estou cansado gosto de fazer perguntas a mim mesmo, coisas como de onde vim? Para onde vou? E, há por aí alguns sítio onde um tipo possa beber qualquer coisa? E neste dia especial, perguntei-me pela banca de jornais mais próxima. Encontrei-a no cruzamento da Rua da Constituição com a Rua da Alegria, numa tabacaria ou papelaria chamada do “Lima”. Foi aí que o meu instinto natural, marcadamente defensor dos fozeiros, voltou a ter sentido. A simpatia da mulher que me atendeu foi deslumbrante... não houve espaços para bom dia, não deu tempo para ver os títulos do jornal antes de o comprar, não ouvi dela o tradicional obrigado dos empregados de balcão nem resposta ao meu desejo de bom domingo. Não volto mais a essa tabacaria do Lima, perto do Lima 5.

Sei que não foi nada de mais, pois trata-se apenas da reacção típica de muitos empregados de balcão neste país. Sei que é chato trabalhar ao domingo de manhã, mas o que ela estava a fazer era precisamente isso: um trabalho. Ao fazer um trabalho, seria suposto não deixar transparecer tanto mau humor que afugentou este cliente (depois de lhe deixar o euro e vinte do jornal), e que espero lhe possa custar muitos mais clientes.

No fundo, esta atitude foi apenas mais uma prova de como as pessoas das Antas são menos ricas e mais snobe que as pessoas da Foz (onde sempre fui bem tratado). Se preferirmos levar isto para o insulto, diria que a maior parte dos meus vizinhos aqui nas antas são mais pobres e mal educados que as pessoas da foz, ou, se preferirmos dizê-lo em português suave, podemos dizer que tenho uns vizinhos de merda...