27 janeiro, 2006

Desconcertante e Tranquilizante

Mais uma passagem pelo JN e reparei no aumento do número de cartões Visa em Portugal. Aliás, não se trata meramente do aumento do número de cartões, mas antes o facto de neste momento haverem mais cartões do que portugueses neste país.


Felizmente, a maioria dos cartões em circulação são de débito e o consumidores que preferem usar o cartão de credito ainda assim saldam quase sempre os valores no vencimento do empréstimo... e por aqui termina a parte tranquilizante! A verdade é que a existência de um cartão Visa na carteira continua a ser um sinal de boa credibilidade financeira que nós, portugueses de boa gema, não dispensamos mostrar ao empregado de balcão. Já quando falamos ao crédito em geral, continuamos a coleccionar famílias cujo pagamento dos créditos superabunda sobre o dinheiro recebido ao fim do mês, ou pelo menos, daquilo que se declara sobre esse tal dinheiro.


E isto para não falar de um deficit orçamental que continua a transparecer nas nossas contas públicas desde há tantos anos.... Ora, supostamente, um país deveria garantir que o ganho dos impostos deveria ser o quanto bastasse para garantir não só o pagamento das despesas correntes do estado, com também para garantir a natural evolução desse serviço em conformidade com a evolução da população. Nisto, ficaria esse tal deficit no orçamento ligado, acima de tudo, a despesas extraordinárias, como seja a construção de infraestruturas, apoio a eventos de interesse público, e todas as demais coisas que, ou viessem fossem do interesse do bem comum, ou pudessem vir a trazer, directa ou indirectamente lucro ao estado. Mas vejamos então o que pode ter acontecido para este desastre, sem pôr em causa a dignidade e sentido de dever público dos nossos digníssimos e responsabilissímos governantes. Por um lado, podemos ter ficado com uma máquina de administração pública mais cara que o serviço que presta, ou então, demasiado grande para a população que temos. Por outro, também é verdade que o investimento público é ainda a maior fatia do dinheiro investido em Portugal, no que se traduz um excessivo peso do estado na economia. E se todo esse investimento não se traduz num aumento das receitas do estado? E se o bem comum não for bem avaliado? E depois querem esses senhores que paguemos impostos a dobrar? E só pelo que comemos e bebemos temos que lhes oferecer um quinto do que conseguimos produzir? E porque não o estado pedir para si próprio um cartãozinho da Visa, e comprar os seus comboios e aviões, e autoestradas e submarinos com Visa, e, como qualquer um de nós, esfalfar-se para poder pagar a conta do cartão quando o fim do mês bate à porta?

Talvez assim resolvessemos alguns dos nossos problemas... Talvez o orçamento de estado devesse aceitar Visa...

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