27 fevereiro, 2006

Sem título

Na quinta-feira, por esta hora, ouvi, em plena autoestrada 1, que um grupo de 12 adolescentes do Porto tinham apedrejado até à morte um travesti. Mais tarde, enquanto deglutia uma sandes na estação de serviço de Santarém, pude ver a reportagem que a SIC Noticias passou à hora do almoço. Ao repúdio que qualquer crime de sangue pode causar, juntou-se então o alarme de vísceras de ter um crime à minha porta. Ontem não vi um único telejornal. Não tive oportunidade de passar por uma qualquer banca de jornais para ver os títulos, mas acredito que este tenha sido o caso do dia, com direito a entrevistas e comentários de médicos, psicólogos e políticos. Acredito que o estimado leitor a estas horas também esteja a pensar que depois de umas quantas semanas à volta da crise das caricaturas, já estava na hora d mudar um pouco as preocupações: a eminência de uma guerra em larga escala já não são tão preocupantes agora que discutimos sobre elas durante dias a fio, gastando litros de tinta e gigabytes de largura de banda. A verdade é que a crise das caricaturas já causa pouco impacto.

Quando cheguei a casa ainda tive tempo de procurar a reacção da comunidade blogueira a este assunto e as pesquisas no technoratti não me deram mais que uma mão cheia de artigos interessantes... infelizmente, a maior parte deles limita-se a contar o sucedido, por vezes com a citação quase completa da noticia do jornal. Não os posso censurar: para tal crime, num primeiro momento as alternativas que afloram até na mais sensata das mentes será o silêncio ou a exigência de sangue... fico contente pelos escritores de blogs, como Eduardo Pitta, terem inteligentemente criticado o acontecimento com a simples apresentação, crua e dura, dos factos. Eu, por meu lado, já ando a alguns dias à volta deste post e ainda não lhe consigo dar um título.

Comecemos por falar que o blog que melhor descreve o que se passou, e melhor compila toda a informação que existiu é espanhol (e meu desconhecido) e chama-se “Estaba el Señor Don Gato...”. A noticia é de sábado, e tal como uma reportagem que passou no Brasil na segunda-feira, mostram bem que o país não é apenas noticia com feiras internacionais ou campeonatos de futebol. Mas voltemos ao post do blog de noestros hermanos, onde vi pela primeira vez a reportagem (permita-me a expressão, nojenta) sobre os pais de dois dos criminosos. Aparece lá não só as suas frases, a sua falta de conhecimento em relação à realidade, o seu alheamento às regras da sociedade, e até a fotografia da forma grotesca da mãe de um desses criminosos. Como sobre os pais destes criminosos rei falar mais adiante, não me prenderei muito com o que eles disseram quando se viram pela primeira vez com jornalistas à frente.

Hoje só vou falar do assassínio em si. De um assassínio por apedrejamento semelhante à execução de uma mãe nigeriana há uns anos atrás. Aliás, estamos a falar de uma das mais antigas formas de aplicar a pena de morte. Curioso, não é? Temos por cá tanta gente a queixar-se das atrocidades que outros regimes fazem sobre outras pessoas, e esquecemo-nos tão facilmente que aqui neste rectângulo de terra só mesmo o estado é que tenta não praticar essas atrocidades...

Acho que era só isto que eu queria dizer quanto ao assassinato... estou cansado de uma semana e fim de semana de cão... amanhã volto com o resto...

1 comentário:

  1. Eu fiquei surprendido pela notícia da absurda morte do travesti. Mas, apenas travesti, por cima de tudo pobre, doente duma das, tal vez piores doenças como é a droga, marginado, em fim, alguém que nao interessa a ningém, debil, indefenso. Por isso comentei o caso. Cá na Espanha há uma juventude também enferma, costumada á violencia, insensível a fazer o mal, motivado pelos filmes , as bandas animadas, etc. Também eles sao vitimas da insensibilidade e do clima de violência. Tal vez o resumo do fracaso da sociedade occidental. Mas quem deve pôr o fim á situaçao sao os governos, as instituoes e os organismos do estado. Nos, nao gostamos, nos queixamos e as vezes acreditamos. Mas sempre fazemos aquilo que melhor sabemos fazer: pensar, reflexionar..
    Saudos,
    Enrique.

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