24 novembro, 2006

Google Docs

Há uns meses atrás perguntaram-me se eu estaria interessado em fazer um blog sobre ciência e tecnologia. Nessa altura estava escaldado com a má experiência do Cyberia, pelo que respondi ser impossível criar um blog dedicado à ciência e tecnologia.

Hoje, sem nenhuma razão aparente, decidi voltar a experiemntar o Google Docs. Confesso que até acho piada a esta forma de editar os documentos, e, já que tem uma forma de integração no Blogger, acaba por ser mais fácil e rápido para mim publicar os posts no Português Suave. Além disso, escuso de escrever apenas quando estou a trabalhar em Linux (é lá que tenho o meu open office e guardo os meus textos). Por isso é com muito orgulho que posso dizer que este post foi escrito num intervalo entre o SimCity e o Age of Empires... :P

Falando agora das características do novo brinquedo: tanto quanto já pude testar, este processador de texto funciona de uma forma semelhante ao Word e ao OpenOffice, sendo ainda assim, menos potente, mas mais versátil. A edição de texto e fácil e directa, e permite editar o código html do que acabamos de escrever, o que é uma mais valia para os webmasters. A verificação ortográfica também é diferente das que temos vindo a usar: o texto é escrito como se tudo estivesse bem, havendo depois só que clicar no link check spelling para dar inicio ao processo de revisão do texto. Muitos de vós poderão pensar que este processo é menos expedito que as minhocas vermelhas do word e do opeoffice, mas há dois casos (entre os quais se dividem todas as minhas actividades de escrita) nos quais um passo único e final de revisão ortográfica pode ser uma vantagem. Em primeiro lugar, temos aqueles que como eu usam termos pouco comuns no léxico normal português, como sejam os termos técnicos: quanto escrevi a minha tese de licenciatura, o nome dos compostos químicos que estudava garantiam que o texto se encontrava tão repleto de minhocas vermelhas que era difícil saber quando é que efectivamente tinha errado na ortografia. Além disso, o constante voltar atrás para corrigir texto é uma atitude contra-natura: as ideias devem primeiro fluir. Na minha opinião não há mal nenhum em fazer um texto-rascunho de cento e vinte páginas cheio de erros, mas com boa fluidez em termos de ideias, e só depois ter a monumental trabalheira de reler o texto todo à cata de pontapés na ortografia.

Desconfio apenas da segurança e de facilidade com que é possível publicar e/ou partilhar inadvertidamente um documento pessoal. Confesso que seria muito mau se toda a gente tivesse acesso a tudo o que toda a gente se lembra de escrever. Mas isso são coisas que o futuro encarregar-se-á de revelar. Por enquanto, temos que dar os parabéns à Google, que conseguiu pôr no mercado mais uma ferramenta extremamente útil, e que certamente fará as dores de cabeça dos nossos amigos da Micro$oft.


02 novembro, 2006

Nota Breve II

Vi hoje a entrevista da Srª Ministra da Educação no Jornal da 2:. Cada vez mais este governo se identifica com o papel de salvadores da pátria...
...Pena serem tão acéfalos quanto os seus eleitores.

06 setembro, 2006

Waiting for Cousteu


Quem ler as noticias das últimas edições do jornal de notícias, quem ouvir as últimas noticias das rádios que ondeiam no ar, quem vir as notícias que os telejornais passam em montra rotativa ao fundo do ecrãn... quem, como eu, está-se a cagar para o futebol e acha que o actual primeiro ministro podia ser substituído por uma cassete de um qualquer curso de motivação durante o sono... quem está a precisar de um tema para escrever no seu blog... no fundo, quem já ouviu por inteiro o álbum “Waiting for Cousteu” do Sr. Jean Michel Jarre sabe como é ficar 45 minutos à espera que algo aconteça, e no final ouvir a agulha do giradiscos ou o laser do leitor de Cds a regressar ao ponto de partida. Acaba por ser esse o sentimento geral que me vem ao peito (e, pior de tudo, à cabeça) quando com tristeza constato que nada acontece neste país.

Mesmo num passeio pela blogosfera, e pelos meus blogs de referância, o texto mais interessante e inteligente que li estava relacionado com a confecção do leite creme da Helena Araújo... vi também um texto sério da Ana Gomes publicado no causa-nossa que contrasta fortemente com o seu discurso histérico e patético a que no tem habituado na televisão.

O pais está parado, adormecido por um verão que se anda a prolongar... mas dias mais agitados virão... a senhora da padaria onde compro pão e gelados já me avisou que vem chuva para os próximos dias... e olhem que ela não falha.

25 agosto, 2006

Um pequeno passo.

Afinal, pelo que se lê no site da NASA, O aumento da nossa alma de que falei ontem foi acompanhado de uma séria “compressão” do nosso sistema solar. A nova definição de planeta foi aprovada assim como a nova definição de planeta-anão. No entanto, acho que só Plutão (ou Plutão-Caronte... não há noticias concretas sobre isso) É admitido nesta nova categoria... aliás, o nome desta nova categoria parece ser ambíguo, consoante as fontes, havendo quem se refira a “planetas-anões” e que fale em “plutons”, o que poderia ser traduzido para português como plutões...

O resultado final das votações de ontem é que o Sistema solar agora conta com 8 planetas clássicos, e que, a menos que estejamos todos cegos, não irá contar com mais nenhum. Quanto aos planetas-anões, por enquanto é certo que temos Plutão... ou Plutão e Caronte (o planeta e a sua lua parecem estar a ser considerados como sendo apenas um objecto celeste) Quanto a Xena e a Ceres (que aliás, já confirmei ter sido o planeta X dos anos de 1800), ainda aguardam novas investigações, juntamente com outros 13 objectos.

Em jeito de conclusão do meu post de ontem, acho que desta “redução” do sistema solar resulta uma maior facilidade em passar a mensagem. Agora sabemos que temos 8 planetas, e que em breve vamos ter vários planetas-anões. Se a entrada dos novos planetas tivesse sido aprovada, provavelmente o grande público teria pensado que tínhamos descoberto novos planetas, em vez de de se ficar a saber que apenas andámos a aperfeiçoar a nossa maneira de ver, compreender e sistematizar o nosso conhecimento.

24 agosto, 2006

Um pouco maior...

Desde a antiguidade, temos considerado como planetas, todos os astros visíveis que se moviam no céu contra um fundo fixo de estrelas. No entanto, as contas que se faziam na época acusavam a existência de um planeta X entre Marte e Júpiter, o que causou uma monumental caça ao planeta. O resultado dessa caçada foi não um, mas muitos pequenos “planetas” que orbitavam entre Marte e Júpiter, muitos deles com formas tão irregulares que não eram dignos de receber o título que hoje se discute.

Quem ler hoje aqueles links dos jornais digitais sobre ciência... sim, estimado leitor, esses mesmos artigos em que em que jornalistas tentam dizer umas bagatelas sobre ciência e tecnologia... estava eu a dizer... quem ler esses artigos poderá ler que a artir de hoje (ou de amanhã) o sistema solar passará a contar com 12 planetas, aumentando assim em 3, a lista de planetas que consta dos nossos manuais escolares e que temos vindo a repetir desde mil novecentos e trinta e tal, quando Plutão foi descoberto.

Aliás, é precisamente por Plutão existir que vamos ver o nosso sistema solar, por assim dizer... “aumentado”. Aquando da descoberta da sua lua Caronte, Plutão o estatuto de plutão no seio do sistema planetário tem vindo a ser questionado. Mais recentemente passou a estar bem caracterizado o ainda asteróide Ceres e verificou-se que só não tem sido considerado como planeta porque está misturado com uma quantidade tamanha de asteróides à volta que tem sido verdadeiramente difícil estudá-lo. Na verdade, confesso que não sei se Ceres não foi o primeiro asteróide a ser descoberto e apontado como sendo o planeta X de que falei há pouco.

Em 2003 foi descoberto um outro corpo celeste, mais distante que Plutão, mas um pouco maior que este último... o bicho por enquanto ainda só tem o código 2003 UB313, mas é provável que venha a responder pelo nome Xena. Agora, se Plutão, que é mais pequeno, é um planeta, porque não podemos considerar Xena como sendo o décimo calhau a contar do Sol? A pergunta não é tão infundada quanto isso e começou a ser formulada de uma forma diferente: na verdade o que queremos é uma definição equivoca sobre o termo «planeta».

Confesso que fiquei muito contente por saber que a comissão encarregada de actualizar a definição de planeta não contava apenas com astrónomos, mas também com pessoas cuja formação na área da história poderia ajudar a compreender melhor a evolução do conceito. É que, ao contrário do que tem vindo a ser anunciado, por exemplo, aqui, isto está longe de ser uma descoberta cientifica, já que se a nossa língua tivesse evoluído de outra forma, estaríamos a chamar Mercúrio, Vénus, Terra, Marte de gúgús-dádás, Júpiter, Saturno, Urano e Neptuno de avestruzes e todo o resto caganitas de cabra.

O importante nos resultados desta comissão de nomenclatura é o passo de abstracção do conceito de planeta, algo que nos põe em sintonia com o natural processo de evolução que a nossa espécie tem sofrido desde o início ( e de forma absolutamente espectacular nos últimos séculos). Estamos a presenciar, em fastforward ao mesmo processo de abstracção que fez com que liberdade passasse do poder andar, para o poder pensar, para o poder pensar e agir.

Afinal o sistema solar não está maior... quem cresceu fomos nós...

21 agosto, 2006

Regresso de férias

Parece que o calor finalmente passou. Durante este período “quente” aconteceu uma guerra no Líbano, umas quantas em Bagdad, a França voltou a aparecer na cena internacional a remar contra a maré de passividade que tem banhado a Europa. Além disso, arderam cinco cidades de Lisboa no meio da floresta nacional... mas isso já era de prever.

No desporto, tivemos um treinador que saiu por um desentendimento à refeição (eu estava a comer e não sei se o problema foi mesmo esse), um treinador que mudou de camisola antes do início da época e a 68ª volta a Portugal, a qual, ao que me parece, andou um pouco ao lado dos parâmetros normais da volta...

Na blogosfera estive a visitar os blogues de pessoal conhecido, para não estar sempre a ler os meus blogues de referência habituais. Encontrei um site muito interessante, que espero vir a apresentar nos próximos dias.

Houve também um juiz e um certo advogado do ministério público que decidiram fazer uma brincadeira de mau gosto contra todos os que ainda nutrem algum carinho por um sistema legal justo e equitativo.

Quanto ao resto... vou agora começar a debulhar o jornal de ontem para ver o quão atrasado ando eu em relação ao mundo.

09 agosto, 2006

Demasiado calor para escrever.


Apesar do verão, não tem faltado inspiração para escrever... o calor é que não ajuda nada... Não me apetece, não quero estar em frente a esta máquina demoniaca. Vou apontando a lápis as coisas que quero dizer em português ainda mais suave, já que o calor põe-me mole e irritadiço...

Até que o frio volte... ;)

09 julho, 2006

Fozeiros e Anteiros

Hoje é domingo, dia do regresso à minha crónica dominical do Palavra de Domingo, e dia de comprar o Jornal de Noticias na banca mais próxima.

Tudo isto parecem coisas de um domingo normal, não fosse um pequeno acidente doméstico obrigar-me a ir tomar o pequeno almoço ao pão quente mais próximo. Aliás, nem o acto de comprar o JN é normal para mim, já que prefiro de longe jornais como o Público ou o Expresso, já que também nestes posso aproveitar uma secção de emprego que não se destina apenas à procura de canalizadores, electricistas e mulheres da limpeza (não que tenha algo contra estas profissões, mas apenas porque prefiro ler os anúncios que se referem mais à minha profissão). No entanto, e porque o pequeno almoço me soube melhor que o esperado, decidi dar continuidade à minha promessa de dar mais valor à vida nas Antas em vez de passar o tempo a almejar viver na Foz. Grande erro! Ao fim de umas voltas entre o Marquês e a Alameda fiquei cansado e desejoso por comprar um jornal e rumar a casa.

Agora, quando estou cansado gosto de fazer perguntas a mim mesmo, coisas como de onde vim? Para onde vou? E, há por aí alguns sítio onde um tipo possa beber qualquer coisa? E neste dia especial, perguntei-me pela banca de jornais mais próxima. Encontrei-a no cruzamento da Rua da Constituição com a Rua da Alegria, numa tabacaria ou papelaria chamada do “Lima”. Foi aí que o meu instinto natural, marcadamente defensor dos fozeiros, voltou a ter sentido. A simpatia da mulher que me atendeu foi deslumbrante... não houve espaços para bom dia, não deu tempo para ver os títulos do jornal antes de o comprar, não ouvi dela o tradicional obrigado dos empregados de balcão nem resposta ao meu desejo de bom domingo. Não volto mais a essa tabacaria do Lima, perto do Lima 5.

Sei que não foi nada de mais, pois trata-se apenas da reacção típica de muitos empregados de balcão neste país. Sei que é chato trabalhar ao domingo de manhã, mas o que ela estava a fazer era precisamente isso: um trabalho. Ao fazer um trabalho, seria suposto não deixar transparecer tanto mau humor que afugentou este cliente (depois de lhe deixar o euro e vinte do jornal), e que espero lhe possa custar muitos mais clientes.

No fundo, esta atitude foi apenas mais uma prova de como as pessoas das Antas são menos ricas e mais snobe que as pessoas da Foz (onde sempre fui bem tratado). Se preferirmos levar isto para o insulto, diria que a maior parte dos meus vizinhos aqui nas antas são mais pobres e mal educados que as pessoas da foz, ou, se preferirmos dizê-lo em português suave, podemos dizer que tenho uns vizinhos de merda...

19 junho, 2006

Fedora Core 5

É inegável o facto dos meus blogs terem ficado os últimos tempos sem grande participação, algo que se reflectiu nas já de si magras audiências que estes meus espaços têm. Tudo isto deveu-se à reestruturação total do meu sistema no passado mês de Maio. Ora, depois de fazer os backups dos textos que publiquei nos sete blogs em que já fui autor, cheguei à trivial conclusão que isto de manter tantos blogs não é tarefa para qualquer um.... aliás, diria mesmo que esta coisa que andar com sete blogs não é de todo possível, nem para quem tenha todo o tempo dedicado à causa.

Por isso, decidi que, a partir destas semanas de fim de Primavera, irei passar a escrever apenas nestes dois blogs, com as respectivas competências: o Palavra de Domingo irá ser mantido na íntegra: tanto no seu formato como na sua vocação própria como espaço para reflexão sobre temas baseados na religião (isso inclui a ética, uma parte da filosofia, da literatura, etc...); já este blog, Em Português Suave, passará a ser o sumidouro de toda a produção literária que me apeteça partilhar, juntando assim a secção de ciência e novas tecnologias do Cibéria, o “diário” de viagens do Evasões em Portugal, e a já característica critica social, e crónicas da vida portuguesa (ou deverei dizer, portuguesinha?) que tenho vindo a fazer neste blog. No meio disto tudo, só espero que este blog não se transforme numa salsalhada onde ninguém se entenda... Por outro lado, imagino que será interessante a um qualquer leitor regular (se é que alguém consegue manter-se regular durante dois messes em que nada muda!!!) esta coisa de nunca saber qual o tema que irei falar... não sei, é só uma ideia, não se zangue ninguém com isto.

Mas dizia eu mais acima que a cadência de publicação aqui foi interrompida por uma reestruturação total no meu sistema, e o resultado dessa reestruturação foi ter passado do louvável, mas ainda assim fraquito Linux Caixa Mágica, para o potente e conhecido Fedora Core 5. Confesso que esta não é a minha primeira experiência com o Fedora: o meu portátil usa o Linux Fedora Core 3 praticamente desde o dia em que o comprei em segunda mão a uma amiga minha. Tinha as malas aviadas para Aveiro nessa altura, e precisava de um computador para entreter as horas, e garantir que não iria ficar a entorpecer o cérebro como a maioria dos nativos com que me cruzei naquela cidade.

No entanto, esta nove versão do Fedora é muito mais surpreendente que a anterior: em primeiro lugar, nota-se que está mais bonita, e que o GNOME, embora seja menos parecido com a interface do M$ Window$, continua a ser, na minha opinião a melhor e mais robusta interface para sistemas Unix/Linux. Em geral, é bonita, rápida, não perde muitos recursos do sistema com animações e efeitos supérfluos, e tem a vantagem adicional de poder ser rearranjada da forma que mais nos parecer conveniente. Para além do GNOME, o Fedora vem também com o KDE (o qual não usei, e também não me pareceu grande coisa... mas eu não gosto de KDE) e tem disponível fora dos CD's o XFCE, com o qual só tive uma breve experiência nos tempos em que testei o Fedora Core 3, e do qual não guardo nenhuma recordação que valha a pena partilhar.

A primeira coisa negativa prende-se com o facto de os cinco CD's necessário para a instalação não serem suficientes, e não evitarem o tráfego internacional quando pretendemos actualizar o sistema, ou instalar software adicional. Mas isso é natural, se considerarmos que somos talvez o único país do mundo que faz distinção entre o que é nacional, e o que não o é. Um outro ponto negativo prende-se com o facto de não querer montar por defeito as partições em VFAT, tal como a minha partição de partilha entre o Linux e o Window$... já nem pedia que me montasem as partições NTFS... mas as VFAT, não custava nada! Notei também que no repositório ainda não havia uma versão dedicada do scilab, mas a versão binária que é disponibilizada no sítio do scilab.org funciona sem defeitos no fedora, e a instalação é bastante fácil, depois de acertarmos com uma directoria apropriada para instalar o programa.

No lado positivo, tenho a dizer que nunca pensei haver uma distribuição tão eficaz. Não tive nenhum problema a configurar a rede, nem a partilha de ficheiros, nem a impressora ou o subsistema áudio, mas até aqui, tudo é normal. O que me surpreendeu foi ter o scanner a funcionar mal o liguei à corrente (o que me poupou os cerca de 5GB de drivers e software HP que o bicho precisa para funcionar em window$). Surpreendeu também o facto de ter colocado a volito (uma caneta para desenho) a funcionar perfeitamente no GIMP, pese embora ter depois formatado o sistema e agora estar com problemas em voltar a configura-la. De resto, o Apache funcionou bem à segunda tentativa (porque andei a brincar com o nome do servidor), o suporte para java fornecido pela equipa do fedora funciona muito bem, e existem duas belas páginas de apio para colocar a funcionar tudo aquilo que, por causa das leis dos estados unidos, não vem de origem com o fedora (leitura de mp3, de DVDs, etc). Essas páginas encontram-se aqui e aqui. Se gostarem de trabalhar com um sistema dedicado à pridução musical, existe o projecto CCRMA, que produz software para Fedora /Redhat vocacionado para o trabalho com audio e video.

Para quem passou os últimos dois anos a trabalhar com o Linux caixa mágica, apenas por causa de um modem usb que teimava em não funcionar com as demais distribuições, eu diria que o investimento num modem ethernet revelou-se um matador de dores de cabeça. O facto de as drives de CD's só estarem montadas quando está um CD lá dentro pode, ao utilizador inexperiente, causa alguma frustração, já que causa erros na abertura dos programas de leitura de CD de áudio, mas uma pequena mudança de hábitos parece ser suficiente para garantir que tudo corre bem.

A minha avaliação final (na tradicional escala de zero a vinte) fica-se pelos 18 valores... uma nota excelente, mas espero coisas ainda melhores da equipa do fedora quando sair a sexta edição de uma das mais conhecidas e respeitadas distribuições dos GNU/Linux.

31 maio, 2006

Memória do Gato Branco

Sim, é verdade, hoje contrariei todas as regras de trânsito que pude contrariar num espaço de quinze minutos. Vinha para casa e dois carros de luxo, da classe alta, provavelmente daqueles seres horrorosos, que só pensam na sua maquilhagem, nas suas “bombas” e nas férias que passam a cada ponte ou feriado ultrapassaram-me... E não, não fiquei furioso por isso, tanto até porque o meu carro ainda é um 1.4, e também sabe voar pelo asfalto, quando as condições são ideais (falo, naturalmente, naquelas autoestradas bem construídas, com bom piso e pouca gente). O problema é que hoje não era dia para isso, não a esta hora, não no meio de uma avenida onde pessoas passeiam de dia e deambulam de noite.

Não sei como se passou, sei que no semáforo antes de minha casa encontrei o Gato Branco a estrebuchar no meio do asfalto... já sabia que não havia nada a fazer por ele, e no entanto não fui capaz de passar ao lado... contornar a roda para evitar pisa-lo... não... nunca faria isso, é indigno, até para um animal, morrer com alguém a ignora-lo. Fiz uma boa marcha atrás na avenida de sentido único, de quatro piscas, com o respeito devido pelo infeliz acidente. Virei por outra rua, andei um pouco em contra mão por uma faixa reservada a autocarros, meti-me em vielas, voltei a andar numa faixa reservada a autocarros, desta feita fi-lo do devido sentido... ainda tive tempo de ver o último estrebuchar do Gato Branco...

E agora? Vão-me tirar a carta ou mandar pender porque me recusei (ao contrário do tipo que seguia atrás de mim) a passar ou lado, ou dar mais uma pantufada num animal moribundo? Talvez os senhores advogados achem este meu escrito uma prova suficiente para me condenar, para me passar uma multa, para fazer algo que me obrigue a respeitar o longo, enfadonho e balofo edifício legal que constroem e criticam... mas por outro lado, fique-lhes o consolo, que se um dia vir um advogado a estrebuchar no meio da rua, talvez me lembre do Gato Branco... ou talvez me limite a cumprir o código e dar-lhe uma pantufada com a roda esquerda.

25 abril, 2006

Incompelitude

Ontem ao jantar, a minha mãe admirou-se do tempo que já passou desde 1974.

Não podia deixar de colocar neste bolg, expoente máximo da minha liberdade de expressão enquanto individuo, uma nota de memória perante as portas que se abriram em 1974. Não posso deixar de lembrar também as pessoas que evitaram e ainda evitam a construção de um salão miserável no lugar do espaço semi-aberto que temos hoje.

Ao longo da semana passada proliferaram os documentários sobre os tempos da revolução. Ontem a baixa da cidade estava mais cheia que em algumas festas populares; fizeram-se concertos que passaram musicas de má qualidade, com letras que falam de uma liberdade ligada à ditadura de um povo analfabeto, deitou-se fogo de artificio, os cafés encheram, fez-se um bom negócio. Mas não deixa de ser interessante pensar que o 10 de Junho e o 1º de Dezembro são feriados muito mais importantes para a nossa história e identidade colectiva, e, ainda assim, não há fogo de artificio, não se conhece muita gente que pense nesses dias com particular carinho, e acima de tudo, não se levantam ondas acerca do enfeite da lapela de ninguém.

O problema do 25 de Abril, e a sua posição única no panorama das festas nacionais portuguesas prende-se com dois factores. O primeiro, bastante óbvio, tem a ver com o facto de, contrariamente ao lugar comum de se homenagearem apenas os mortos, este feriado contar com o louvor a uma boa quantidade de viventes. Coisa interessante será pensar que esses viventes que reclamam a igualdade para todos, deixam-se louvar em viva, deixando morrer no esquecimento vultos muito maiores da nossa cultura e artes.

Em segundo lugar, a importância dada ao feriado de Abril vem de o povo bruto e analfabeto que participou da revolta de 1974 ser o mesmo povo bruto e analfabeto que hoje vagueia pelas nossas ruas. As campanhas de alfabetização foram apenas uma mera manobra para iludir as estatísticas, e hoje sabemos que a elevada percentagem de analfabetos em 1974 é hoje igualdade pela percentagem de analfabetos funcionais (pessoas que, tendo aprendido a ler, escrever, e a fazer as operações básicas da aritmética, são incapazes de interpretar um texto ou de estimar somas, subtracções, multiplicações e divisões). Por isso o 25 de Abril de 1974 é tão importante para este povo bruto e analfabeto. Porque passamos a legitimar a sua opinião como sendo a mais importantes, porque agora basta mentir, e ter falinhas agradáveis à populaça bruta e analfabeta para se poderem ganhar eleições. Porque o povo é bruto e analfabeto funcional e não muda, não quer mudar nem está disposto a aceitar ninguém que queira mudar.

Porque desde 1974 não se pode obrigar o povo a se superar. Porque desde 1974 a liberdade individual só pode ser concedida no seio dos interesses de um povo bruto e analfabeto. Porque desde 1974 temos andado a arrastar Portugal por um caminho que as outras nações já mostraram não ser viável torna-se importante que se deixe de pensar em Abril de 1974 e se começe a pensar no futuro.

23 abril, 2006

Re: A Casa do Pântano

Li hoje um artigo bastante antigo do Eduardo Pitta sobre o lamaçal que liga a Casa da Música à estação de Metro com o mesmo nome, aqui no Porto, junto à Boavista. Enquanto a inspiração não me aparece para escrever os meus posts dominicais deixo aqui um pensamento lateral à situação actual daqueles dois ou três quarteirões da cidade do Porto.

Quem quiser passear pela rotunda entre a Avenida de França e a Casa da Música, poderá repara que uma conhecida instituição bancária tem a sua loja num curioso edifício de dois pisos. Tal edifício é a antiga estação de caminhos de ferro de via estreita (bitola de um metro) que ligava o Porto do inicio/meio do século XX a Matosinhos, Guimarães (com extensão para Fafe) e Famalicão (Via Póvoa do Varzim). Logo após a travessia da Rua 5 de Outubro, ficava, como muitos de nós ainda sabem, a antiga recolha dos carros eléctricos do Porto, onde alguns dos nossos autocarros históricos encontraram também abrigo. Esta proximidade entre uma estação terminal dos caminhos de ferro da Companhia do Norte e a recolha central dos eléctricos veio a ser um dos primeiros casos da tão aclamada intermodalidade da qual o actual sistema de transportes da cidade do Porto é herdeiro.

Mais tarde, o caminho de ferro em via estreita foi desviado no sentido do centro da cidade do Porto (Estação da Trindade) tendo-se construído também a estação da Avenida de França e deixando-se ao abandono a antiga estação da Boavista. Com o passar dos anos as linhas dos eléctricos foram perdendo importância no conjunto dos transportes públicos do Porto, e aqueles dois pilares da primitiva intermodalidade do Porto permaneceram durante anos como oficinas de manutenção e reservatório de peças obsoletas.

A Estação da Boavista foi então transformada em loja bancária e a recolha dos eléctricos foi destruída para construção do mamarracho branco. Neste momento, enquanto nada se constrói, um lamaçal com alguns casarões abandonados é o último testemunho do bom planeamento em termos de mobilidade que ali se materializou.

Sinta-se portanto o Sr. Eduardo Pitta muito feliz por ter passado por aquele local se ter sido esmagado pela memória de um comboio para Guimarães.

20 abril, 2006

Faltas (de disciplina)

Falou-se na semana passada, que um grupo bastante ecuménico de marmanjos que se baldou ao trabalho para se poder fazer à estrada antes que a manada dos comuns mortais começasse a sua migração sazonal para sul, ao encontro de luz para os seus fatos de banho e pastos verdejantes para as suas bolas (de golfe, claro...). Honestamente, até eu, se não tivesse que andar a contar os trocos para passar um fim-de-semana mais folgado aqui no Porto; se tivesse um bom carro, uma vida calma e segura, se tivesse uma família que se recusasse a ter uma Páscoa virada para o que esse feriado realmente significa, se tivesse inclusive (como muitos daqueles ilustres senhores têm) um puto que irá mentir sobre o lugar onde passou a Páscoa se tal actividade não incluir uma despesa superior a 1300€ em deslocações... bem, se não tivesse tantas preocupações financeiras e mais gosto em estar com a minha família, bem que me baldaria ao trabalho de Quinta-feira Santa e me poria depressa na primeira paisagem paradisíaca.

Por isso compreendo a atitude dos vermes que desejam luz e relva. Aliás, a maior parte das pessoas que os criticam são pessoas que (tanto quanto as conheço) seriam capazes de tal coisa, se em tal lugar e posição se encontrassem. Assim, se todos os deputados se consideram titulares de um cargo importante como “eleitos pelo povo”. Se a boa maioria deles não tem problemas em mandar a sua dignidade às urtigas e faltar a actos públicos depois de ter assinado a sua presença. Se o povo que os elege é o mesmo que os critica, para depois os voltar a eleger com grande alegria. Se quem por muitas vezes cometeu semelhante pecado na sua vida quotidiana é agora que atira a primeira pedra àquelas bichas-solitárias financeiras. Então não sei qual será o maior pecador, se os nossos pseudo-representantes se os pseudo-representados.

Mas uma coisa é certa, e vai de encontro do texto de RPS, no “Fado falado”, se os deputados portugueses não são grande coisa, a verdade é que o povo que os elege não lhes fica nada atrás.

Afinal de contas, a democracia actual, nada tem a ver com a democracia da Grécia antiga, muito pouco tem a ver com a democracia da I República Francesa. Na verdade a democracia que temos hoje é um fato comprado em segunda mão da França do General De Gaule, o qual, por nos ficar curto nas mangas foi depois remendado com uns panos da antiga colcha portuguesa e rematado com uns quantos enfeites para encher a vista ao povo. Talvez não fosse má ideia começarmos a despir o fato alugado aos franceses (aos quais o próprio fato parece não lhes servir muito bem nos dias que correm) e começarmos a desenhar um sistema político representativo próprio, menos interessado em dar ares de democracia, e mais interessado em preservar as liberdades e os direitos individuais.

03 abril, 2006

Tamiflu

Apareceu hoje no meu correio electrónico esta mensagem, que não podia deixar de partilhar com os leitores do "Português Suave" que há mais de um mês não têm tido noticias minhas. O texto é um extracto do edital da revista espanhola, DSalude (edição de abril deste ano).



Sabes que o virus da gripe das aves foi descoberto há 9 anos no Vietname?


Sabes que em 9 anos só morreram 100 pessoas em todo o mundo?


Sabes que foram os americanos que alertaram pata a eficácia do TAMIFLU como preventivo?


Sabes que o TAMIFLU só atenua alguns sintomas da gripe comum?


Sabes que a sua eficácia ante a gripe comum é muito questionada pelos cientistas de todo o mundo?


Sabes que perante este virús aviário, que é mutante, ele apenas pode reduzir a enfermidade?


Sabes que a gripe aviária só afecta as aves?


Sabes quem comercializa o TAMIFLU? A ROCHE


Sabes a quem a ROCHE comprou a patente do TAMIFLU em 1996? à GILEAD SCIENCES INC.


Sabes quem era o Presidente da GILEAD SCIENCES INC e hoje principal accionista? DONALD RUMSFELD, actual Secretario de Defesa dos USA


Sabes que a base do TAMIFLU é o anís estrelado?


Sabes quem ficou com 90% da produção mundial deste produto? ROCHE?


Sabes que as vendas do TAMIFLU passaram de 254 milhões em 2004 para mais de 1000 milhões em 2005?


Sabes quantos milhões mais pode ganhar a ROCHE nos próximos meses se se prosseguir este negócio do medo?




Por fim, a mensagem de correio electrónico terminna com um apelo bastante sugestivo:


¿ESTAMOS LOCOS, O SOMOS IDIOTAS? AL MENOS PASALO PARA QUE SE SEPA.


E pronto, cá estou eu a passar a palavra.

06 março, 2006

S. José (II)

Hoje abri uma caixa de correio electrónico pouco usada, encontrei uma série de e-mails que me remeteram para o meu ainda menos usado perfil no orkut. Quando entrei vi aquela engraçada frase do dia, que no meu caso dizia qualquer coisa como “A sociedade prepara o crime, o criminoso comete-o”. Esta frase parece ter sido, talvez pelo seu conteúdo óbvio, o gatilho que me fez voltar a escrever sobre o tema do crime do Porto.

Ora, como pude ver no telejornal de domingo (o primeiro que vejo em dias, por razões profissionais), os media já mostram um certo esquecimento quanto aos acontecimentos da semana passada, e vão voltando lentamente a apimentar as complicadas questões do relacionamento entre o mundo ocidental e o Islão. Pelo meu lado, embora este não pareça ser este o meu último post que sobre a morte da Gi, faço variar a minha reacção entre o alívio por não termos entrado numa onda obsessiva de noticias sem interesse e o desânimo por se ter enterrado o caso e a memória antes do cadáver. Por outro lado, ainda é lamentavelmente compreensível que não se queira defender em praça pública os direitos de um homossexual enquanto ser humano.

Ora, é comum dizer-se que o povo português é de brandos costumes... agora, se os indivíduos que compõem um povo dizem que esse povo, enquanto colectivo é de brandos costumes, talvez seja esse povo constituído por indivíduos que, individualmente, não tenham nada de brando nos costumes deles. E talvez isso se note bem na forma branda como vemos os povo intrometer-e na vida alheia e na forma branda como se defendem a moral e os bons costumes de um povo que nunca os praticou. Este povo, dito de brandos costumes, costuma bradar bastante ser ele quem mais ordena, apesar de com tamanha taxa de analfabetismo funcional, bem que um pouco de bom senso recomendaria a entrega provisória do poder a alguém um pouco mais instruído. Este povo que é incapaz de ver alguém diferente a entrar-lhe pelas suas portas e cuja ignorância nos tem salvo da eleição de um qualquer partido de extremos. Este povo de Portugal tem, a meu ver, mais de arrogante do que de brando, e terá sido nesse ambiente de arrogância, intolerância e omnipotência da massa inculta que o crime foi forjado. Depois, como povo medroso que somos, os que dizem pelas ruas que aos homossexuais era dar-lhe porrada para aprenderem calaram-se perante o crime. Continuamos assim a nossa caminhada hipócrita, encorajando em pensamento o que não desejamos que seja levado avante por actos.

E no meio disto tudo esquecemos que também nós, cidadãos comuns deste país fomos vitimas deste crime. Todos os que se chocaram, todos os que se revoltaram, todos os que escreveram ou meditaram viram, com desânimo, o rumo que a nossa sociedade leva. Todos nós somos Giselas e é nesta condição dupla de criminosos e vitimas que temos que repensar o modo como a sociedade portuguesa enfrenta um mundo cada vez mais diversificado.

01 março, 2006

Memória!

E se o estimado leitor hoje acordasse e se sentisse num país de juízes parciais, onde a máxima do povo ser quem mais ordena ganha força de lei moral e a necessidade de manter a memória do passado surge mais como uma forma de ocultação de males mais recentes do que de um forma de respeito pela história? Parece-lhe este país familiar? Pois bem, eu hoje quase ia devolvendo o pequeno almoço à troposfera quando li o post de ontem do Apenso. Escreve o nosso amiguinho sem nome do seu escândalo por o antigo edifício da PIDE estar prestes a ser transformado num conjunto de apartamentos de luxo.

Ora, este protesto que no primeiro parágrafo até parece ser uma preocupação em manter um pedaço da história do país rapidamente se transforma numa espécie de propaganda contra o sistema democrático ocidental. E segue então o nosso amiguinho por aí abaixo, com umas frases soltas, em que lá dá a imagem de que com a reconstrução do edifício se está a lava a história, mas tal é a quantidade de frases feitas que, honestamente, deixei de saber qual das opções seria um maior insulto para a história portuguesa: se dar aval à dita obra, se dar ouvidos a este cérebro lavado. Como qualquer pessoa que preza a conservação da memória, também sou mais favorável à criação de um museu sobre a história do século XX naquele local... mas um museu, não um instrumento de propaganda.

Mas se o amiguinho quer, o amiguinho tem! Falemos então um pouco de história. Quando era miúdo apoiava e gostava muito da República Democrática Alemã, e não entendia o porquê de o nosso Portugal democrático não ter tantos problemas de relacionamento com esse país. Foi preciso que muros e cortinas caíssem à frente dos meus olhos para ver o paradoxo das duas Alemanha: a que se diz democrática era na verdade uma ditadura comunista e a outra, federal, que eu dantes entendia que era oposta à democrática e, portanto, uma ditadura, era uma economia de mercado próspera onde se podia circular e falar em liberdade, sem censuras nem polícia política. Foi então que me apercebi que democracia é um conceito diferente para democratas e comunistas. A minha democracia não é a do amiguinho, e, para nossa grande infelicidade (mas mais sua que minha!) nenhum dos nossos conceitos encaixa na realidade portuguesa. Ora, tenho aqui em casa uma série de antigos jornais e revistas que trazem escrita no seu cabeçalho a frase “Visado pela comissão de censura”. Acho que bastaria esta prova documental para deitar por terra a sua pseudo-tese de alguém andar a esconder as realidades da censura.

Mas o nosso amiguinho continua no seu ar de revolucionário a criticar reformas e condecorações de antigos agentes da polícia política como se de privilégios se tratassem. A menos que ache que só deveria ser permitido o livre pensamento para quem apoiar ditaduras de esquerda, acho que se esses homens concordam ou não com o regime do Estado Novo (fascismo foi em Itália e se o amiguinho entendesse um pouco de história veria que, apesar se serem ambas bastante repressivas, são formas de governo diferentes) não tem nada a ver com a reforma que qualquer pessoa deverá receber quando executa o seu papel em termos profissionais, e esses homens foram, para todos os efeitos, funcionários do estado. Ora, se o amiguinho acha isto um privilégio, recordo-lhe que privilégio significa, etimologicamente «lei privada», ou seja, uma lei feita à medida de alguns indivíduos. Num país onde se esperou pela prescrição dos processos das FP25 e do assassinato de Sá-Carneiro para se começarem a promulgar leis que permitam a agilização da justiça, parece que os verdadeiros privilegiados foram os assassinos e bombistas que trabalharam em nome desse seu conceito estranho de democracia...

28 fevereiro, 2006

S. José (I)

Ontem à noite fui para a cama com a sensação que escrevi muito sem dizer nada... Acho que toda a gente na blogosfera achou chocante o crime e não hesitou em pedir a imputação do crime aos seus autores... aliás, confessos autores, por isso o assunto não tem suscitado tanta polémica quanto outros assuntos recentes. Uma vez que partilho da mesma opinião que os demais blogistas, não contem comigo para gerar polémicas (embora seja essa a vacação deste blog).

No entanto, este crime surgiu na nossa sociedade com a potência de um dinamite capaz de voltar a abrir veios de conversa sobre muitos problemas que a nossa sociedade tem vindo a fingir não ter. Ora, um dos problemas mais interessantes foi levantado pelo Professor Vital Moreira no Causa Nossa. Termina Vital Moreira o seu comentário a este assunto com a seguinte questão: «Há duas perguntas que ficam no ar: a leniência dos média seria a mesma, se a vítima não fosse um travesti? e também seria a mesma, se os autores não estivessem a cargo de uma instituição da igreja católica?» Confesso que li um artigo a pôr em cauda as ideias do professor, mas como ontem estava cansado, e com sono, e sem vontade nenhuma para me meter numa cruzada contra a Igreja Católica e as suas instituições de manipulação de consciências... ups, perdão, instituições privadas de solidariedade social... bem, por todos esses motivos acabei por não gravar o endereço do tal comentário, nem retive o nome do autor.

Vamos então desmontar a eventual culpa que a instituição das oficinas de S. José terão neste processo. Ora, em primeiro lugar, gostaria de imaginar a cara do Bispo do Porto quando, ao fim de uns quantos dias a tentar telefonar para a instituição sem ser atendido, viu na TVI u padre falar do caso. Aliás, citando o próprio «É preciso compreender esses rapazes, acautelar o que vai ser feito deles. Estas coisas não acontecem por acaso. Ainda outro dia um dos alunos aqui das oficinas se queixou de ser assediado por um pedófilo sempre que sai à rua. Com este escândalo todo da pedofilia... nunca se sabe que razões de queixa teriam..» A citação é feita a partir do blog Da Literatura e reparem quando o padre fala, no aluno “aqui das oficinas”. Afinal, parece que a instituição não estaria tão incontactável quanto isso... só ao bispo é que ninguém liga cavaco. E mesmo que esta atitude venha a causar algum tipo de maleita no corpo de cristo, pelo menos ilibará a hierarquia da Igreja de uma boa parte da incompetência de que a instituição tem sido acusada.

Resta-nos então a instituição singular como alvo das nossas considerações, já que ela própria parece não responder perante o seu superior hierárquico. Apesar de ter tentado obter alguma informação sobre as ditas, a verdade é que a quantidade de vezes que elas têm sido referidas em publicações on-line toldou qualquer tentativa de colocar um motor de busca à procura de uma pagina web da dita cuja instituição. Acredito que, como todas as instituições do género, os seus princípios se baseiem na ajuda aos mais necessitados. Porém, ao ouvir que o pai de um dos criminosos também foi aluno das mesmas oficinas e hoje é um pedreiro desempregado, praticamente analfabeto e que na semana anterior havia sido réu por actos de violência doméstica (acredito que problemas de álcool também possam fazer parte da vida desse homem) não posso deixar de pensar que, à imagem das melhores práticas deste país de príncipes fidelíssimos, aquela instituição tenha seguido a politica de dar peixe em vez de ensinar a pescar.

Retomo, por isso, a ideia da Helena Araújo e pergunto se de facto não seria melhor para as crianças de risco serem adoptadas por casais homossexuais (por muito ofensivos que eles sejam à moral e aos bons costumas do povo) em vez de serem deixadas em armazéns onde potenciais seres humanos se transformam em potenciais criminosos. Mas é claro, que na mentalidade de D. Maria e do tio Manel lá de Ovar o melhor será sempre deixar os miúdos à guarda do Padre Cura, que os há de educar para serem homens de verdade... como mostram os resultados recentes...

27 fevereiro, 2006

Sem título

Na quinta-feira, por esta hora, ouvi, em plena autoestrada 1, que um grupo de 12 adolescentes do Porto tinham apedrejado até à morte um travesti. Mais tarde, enquanto deglutia uma sandes na estação de serviço de Santarém, pude ver a reportagem que a SIC Noticias passou à hora do almoço. Ao repúdio que qualquer crime de sangue pode causar, juntou-se então o alarme de vísceras de ter um crime à minha porta. Ontem não vi um único telejornal. Não tive oportunidade de passar por uma qualquer banca de jornais para ver os títulos, mas acredito que este tenha sido o caso do dia, com direito a entrevistas e comentários de médicos, psicólogos e políticos. Acredito que o estimado leitor a estas horas também esteja a pensar que depois de umas quantas semanas à volta da crise das caricaturas, já estava na hora d mudar um pouco as preocupações: a eminência de uma guerra em larga escala já não são tão preocupantes agora que discutimos sobre elas durante dias a fio, gastando litros de tinta e gigabytes de largura de banda. A verdade é que a crise das caricaturas já causa pouco impacto.

Quando cheguei a casa ainda tive tempo de procurar a reacção da comunidade blogueira a este assunto e as pesquisas no technoratti não me deram mais que uma mão cheia de artigos interessantes... infelizmente, a maior parte deles limita-se a contar o sucedido, por vezes com a citação quase completa da noticia do jornal. Não os posso censurar: para tal crime, num primeiro momento as alternativas que afloram até na mais sensata das mentes será o silêncio ou a exigência de sangue... fico contente pelos escritores de blogs, como Eduardo Pitta, terem inteligentemente criticado o acontecimento com a simples apresentação, crua e dura, dos factos. Eu, por meu lado, já ando a alguns dias à volta deste post e ainda não lhe consigo dar um título.

Comecemos por falar que o blog que melhor descreve o que se passou, e melhor compila toda a informação que existiu é espanhol (e meu desconhecido) e chama-se “Estaba el Señor Don Gato...”. A noticia é de sábado, e tal como uma reportagem que passou no Brasil na segunda-feira, mostram bem que o país não é apenas noticia com feiras internacionais ou campeonatos de futebol. Mas voltemos ao post do blog de noestros hermanos, onde vi pela primeira vez a reportagem (permita-me a expressão, nojenta) sobre os pais de dois dos criminosos. Aparece lá não só as suas frases, a sua falta de conhecimento em relação à realidade, o seu alheamento às regras da sociedade, e até a fotografia da forma grotesca da mãe de um desses criminosos. Como sobre os pais destes criminosos rei falar mais adiante, não me prenderei muito com o que eles disseram quando se viram pela primeira vez com jornalistas à frente.

Hoje só vou falar do assassínio em si. De um assassínio por apedrejamento semelhante à execução de uma mãe nigeriana há uns anos atrás. Aliás, estamos a falar de uma das mais antigas formas de aplicar a pena de morte. Curioso, não é? Temos por cá tanta gente a queixar-se das atrocidades que outros regimes fazem sobre outras pessoas, e esquecemo-nos tão facilmente que aqui neste rectângulo de terra só mesmo o estado é que tenta não praticar essas atrocidades...

Acho que era só isto que eu queria dizer quanto ao assassinato... estou cansado de uma semana e fim de semana de cão... amanhã volto com o resto...

22 fevereiro, 2006

Ainda o Islão

Demorei um pouco até voltar a querer escrever sobre este tema. Desta vez decidi passar do comentário ao único episódio de relevo que toda esta polémica teve em Portugal (ou na Espanha Ocidental, se não nos demarcarmos rapidamente de certas atitudes prepotentes do resto da Europa tanto a nível interno como externo). Tomei algum tempo para ler o que se tem dito aqui na blogosfera nacional acerca das caricaturas em si. Gostava de poder resumir esta questão a um único artigo (na verdade não me apetecia nada isso... estou a adorar o debate que tem aparecido e tenho aprendido bastante com isso), por isso é natural que este artigo vá tendo sequelas de tempos a tempos.

N' “O Canhoto”, no artigo tem a data de 31 de Janeiro, existe uma discussão muito interessante sobre o título “Somos todos dinamarqueses”. Neste artigo, Rui Pena Pires refere “é importante esclarecer que não deve ser aceite o argumento do “insulto à religião” (neste caso islâmica). Só faz sentido falar em insulto quando dirigido a indivíduos concretos, não a ideias. Além do que insulto não é o mesmo que ridicularizarão de uma ideia de outrem, mesmo que esse outrem sacralize essa ideia”. Ora, tal como o Rui Pires, também eu sou da opinião que se devem respeitar pessoas e não ideias, e estou certo que se não fosse essa posição é o garante da evolução das ideias e, em última análise, da civilização. No entanto, quanto mais eu leio sobre esta crise, mais me vou convencendo que o problema está em saber, quando se fala de religião, onde acaba a pessoa e começa a ideia.

Em primeiro lugar, não considero o individuo como sendo apenas um corpo humano. Creio que este ponto será bastante consensual, pelo que não me deterei muito nele. Acho que o insulto ou ridicularização de um individuo devido às suas características físicas serão vistas por todas como de mau gosto, quando não xenófobas ou racistas. Temos como exemplo disso o olhar reprovador com que as sociedades pluralistas colocam quando alguém publicamente chama preto a um individuo de raça negra, ou menciona a “bicanca” dos semitas.

Um individuo num estado não vegetativo não se irá limitar a respirar, comer, beber, movimentar-se e não pensar; sendo então no campo das ideias que podemos dividir dois territórios diferentes: por um lado temos as ideias de ordem prática, politica ou circunstancial, os padrões de estética, o gosto por determinado desporto, hobbie ou indivíduo. São tipos de ideias nas quais todos nós já experimentamos mudança. Todos nós lembramos aquele ídolo da adolescência que hoje somos incapazes de olhar sem que nos dê a volta ao estômago, todos nós mudamos e nenhum de nós será capaz de tomar como ofensa uma critica, jocosa ou severa, a essas ideias.

No outro lado do campo das ideias, podemos ter o que consideramos “princípios do ser”, isto é, todo um conjunto de ideias, às quais estamos ligados de tal forma que as usamos para nos caracterizar, nos identificarmos com determinado grupo sócio-cultural, e nos distinguirmos da massa humana à volta. Dentro deste tipo de ideias, incluo, sem dúvidas, a religião, enquanto elemento de identificação com a comunidade envolvente. Neste aspecto, acho que é perfeitamente legitimo ponderar até que ponto a publicação das caricaturas não ofendeu cada um dos muçulmanos deste mundo.

Talvez aqui no mundo ocidental tenhamos vindo a substituir o conteúdo desse campo das ideias que nos caracterizam. Talvez tenhamos substituído a religião pelo nosso grupo social ou simplesmente estejamos em vias de extinguir esse grupo de ideias. Aliás, a prova da desertificação em ideias que nos caracterizam reside no facto de ter andada a ser agitada a liberdade de expressão como bandeira do ocidente e eu – e, como eu, muitos – não considerarmos que essa bandeira possa ter força suficiente para congregar todo o mundo ocidental... e ainda assim permaneço tão ocidental, pluralista e português como os demais...

17 fevereiro, 2006

Avós Metralha

Ok... este agrupamento já não é novo... aliás, já não é novo nem na idade nem nas luzes da ribalta. São velhos, um já está morto e os outros dois provavelmente verão qualquer coisa superior a 2 anos de cadeia como uma pena de prisão perpétua. Hoje, enquanto andava a passear pelas noticias, vi esta noticia do último assalto: uma pastelaria. E daí? Já que eles não usam balas, ao menos que façam bom proveito dos bolinhos.

Esta nossa situação, de termos não só problemas com adolescentes, mas também temos os nossos cidadãos mais idosos a fazerem proezas que julgávamos exclusivas d'”O Santo” ou da “Missão Impossível”! Eles são quadros eléctricos arrombados, eles são prédio escalados, eles são assaltos completos sem uma única pistola! Eles são tudo, tudo, menos um bom sinal. Na verdade não posso censurar estes avozinhos quando dizem que preferem uma vida de crime a ficar em casa, e não estou a falar do lugar comum do “parar é morrer” (a esta hora bem que me apetecia parar, que já estou morto de sono, mas enfim...). Do que estou a falar é do estranho estado das coisas, em que um cidadão que sempre pagou impostos, sempre agiu de acordo com a lei, sempre levou uma vida honesta vê-se muitas vezes, demasiadas vezes, na figura de filho bastardo de um estado pai dos reclusos. Segundo parece, está-se muitas vezes melhor lá dentro do que cá fora. Lá dentro não há as aflições do dia-a-dia cá fora. Há outras, é certo, mas a ideia geral continua certa: quem está cá fora olha para os que estão lá dentro, como um agricultor algarvio para os ingleses de um hotel de luxo, e quem se habituou a estar lá dentro, prefere andar lá dentro que sobreviver cá fora. Talvez isto seja o mais directo resultado das nossas políticas de “nivelar por baixo”, de garantir que todos sejamos iguais ao que estão no fundo da lista, quando se fala de qualidade de vida. E não se trata isto de um problema de ideologias, pois aquelas férteis cabeças, bem adubadas, que pairam na vida politica deste país, tanto praticam isto com base em princípios de direita como de esquerda. É uma questão de prática, mas também é uma questão de vigilância, de não ceder a discursos carregados de ideais mas cuja tradução prática será, invariavelmente, catastrófica para o país.

Continuem então os nossos dignos representantes com a sua prática de nivelamento e não tardará estaremos a ser chamados de little brazil: com as nossas telenovelas, e português mal escrito, e português mal falado, e um orgulho sem fundamento numa nação arrasada, e os seus problemas de crimes na adolescência, e os seus problemas de crimes na meia idade, e a nossa última grande contribuição para a humanidade: os crimes da terceira idade!

15 fevereiro, 2006

Re: As Caricaturas

Voando pela blogosfera, notei que ainda há bastantes focos de incêndio causados pela crise das caricaturas de Maomé. Já na minha última postagem tinha aflorado ligeiramente o meu ponto de vista, mas não pude deixar esta polémica passar ao lado deste blog. Confesso que esta semana o que me estava mesmo a apetecer fazer era escrever sobre o Mestre Agostinho da Silva, mas enfim: dei um passeio pela blogosfera e, tal como quem vai a passar pela rua e sente algo quente e mole debaixo do sapato, também eu me deparei com vários comentários depreciativos da atitude sensata do nosso ministro dos negócios estrangeiros.

Ora, se há algo de que Portugal se pode orgulhar, é de ter sido um país cuja contribuição para a Paz (e aqui eu falo de paz na sua plena definição de concórdia e respeito entre culturas e não a simples ausência de guerra que alguns defendem) tem superado largamente todas as suas contribuições em guerras. Na verdade, à excepção da nossa hospitalidade perante a cimeira dos Açores, Portugal tem tido bastante sensatez na sua política externa. Analisemos, portanto, o paradigma português sob dois pontos de vista: o lado da imprensa e o lado da política.

A imprensa portuguesa, até mesmo o 24 Horas e a TVI, tem tratado esta questão com uma sensatez e uma delicadeza exemplares. Não só não temos publicado as ditas caricaturas como tenho noção que as opiniões do lado europeu e do lado islâmico têm estado em equilíbrio quanto a tempos de exibição e importância dada. Mais do que isso, os nossos veículos informativos não cessam de mencionar também a muitas manifestações pacíficas de muçulmanos em todo o mundo (mesmo em Marrocos, que é um país islâmico). Tal como escreveu a autora do Dedos de Conversa, é agradável viver num país onde os media medem o nível da água antes de começarem a ferver. Isto para não falar que, segundo o que parece ser a política editorial de alguns orgãos informativos, o caso da avozinha que vive num barracão sem luz, nem tecto, nem água, nem nada, é mais digno de ser passado na televisão nacional à hora de jantar que ser alvo de um processo contra o estado por não cumprir com as sua obrigações sociais.

Viremos então as costeletas na brasa e falemos da parte política. Ora, o nosso MNE disse, e passo a citar: “Portugal lamenta e discorda da publicação de desenhos e/ou caricaturas que ofendem as crenças ou a sensibilidade religiosa dos povos muçulmanos”. Dos muçulmanos e de qualquer povo! A Europa, que durante tantos anos proclamou que a nossa liberdade acaba onde começa a dos outros, agora parece querer baixar ao nível intelectual que tinha aquando da Idade Média. A frase que traduz a nossa política em relação a este assunto não é a frase de um país de brandos costumes (como defendem uns quantos amigos do patologista, o qual, já agora, deveria fazer uma certa profilaxia às suas ideias). É antes uma posição tomada por uma entidade que defende radicalmente os ideais de paz e liberdade. Talvez até os nossos jornalistas se tenham apercebido disso.

Pior do que isso, foi a insinuação de um comentário venenoso por parte do embaixador do Irão em Portugal ao dizer que o nosso país teve a melhor reacção europeia ao incidente das caricaturas. Isto é mau? Numa altura em que a Europa se afunda em radicalismos estúpidos e qualquer liberdade de espírito (religiosa ou de pensamento) se afunda no exagero das liberdades de imprensa que são aproveitadas por grupos extremistas no seu amor, quer à polémica, quer aos lucros que a publicação destes escândalos trazem. Numa altura em que é preciso chama as partes ao bom senso, custará assim tanto dizer “quem têm sido os maiores agressores nos últimos tempos? Somos nós! Portanto, cabe-nos a nós a iniciativa e cabe-lhes a eles também dar passos nesse sentido e não utilizarem a violência porque os protestos são legítimos mas há muitas maneiras pacíficas de fazer protesto”? Ou será melhor colocarmos o nosso submarino sucata ao largo de Marrocos, e pedirmos à GNR para ir dar uma volta até Teerão? E já gora, porque não pedir ao nosso amigo patologista para de voluntariar no exército americano para apoiar a invasão do médio oriente?

07 fevereiro, 2006

Vergonha

Nas ultimas semanas têm vindo a público noticias preocupantes do mundo da cibernética. Depois da Yahoo, a Google e a Microsoft decidiram Optar pela expansão das suas cotas no mercado da internet chinesa às custas da primeira forma explícita de censura em locais vitais para a internet.

Ok. A frase acima poderá ser um pouco radical, se considerarmos a infoexclusão como uma forma de censura e que outros países possuem formas de filtrar os conteúdos virtuais a que os seus cidadãos têm acesso. Por isso a atitude destas três empresas que vergaram o conteúdo dos seus portais e motores de busca aos caprichos da censura chinesa acabou por não ter sobre o mundo democrático um impacto à medida de tamanha atrocidade.

Embora ainda não tenha conhecimento sobre o funcionamento da censura no Yahoo, a Google passou a disponibilizar na china uma versão modificada do seu motor de busca, onde é impossível pesquisar coisas como “direitos humanos”, “independência do Tibete” ou simplesmente “liberdade”. Quanto à Microsoft, Os seus MSN spaces foram inicialmente censurados de forma a não publicarem conteúdo que ferisse as susceptibilidades do censor oriental. Assim, blogs no MSN Spaces que contenham expressões sensíveis foram alvo de censura internacional. No entanto, ao fim de poucos meses, alguns desses blogs foram reabertos, mas apenas ao público que a eles aceder fora da china.

Toda esta situação faz-me lembrar da superpotência da Lestásia, referida por George Orwell no livro “1984”. Todos os chineses vêm um mundo filtrado pelos olhos atentos dos seus grandes irmãos. E, pior do que isso, a censura agora começa a afectar todo o ciberespaço, já que não tardará muito até que as autoridades chinesas passem a desejar a eliminação de todo e qualquer site no ciberespaço que possa colocar em causa as certezas de regime tão desumano. Por isso acho estranho tanto acanhamento por parte da mesma sociedade ocidental que defende com unhas e dentes até os insultos que o uso ético da liberdade de imprensa deveria saber evitar.

30 janeiro, 2006

Megalomania Espongiforme

Mais um fim de semana que passou e mais umas quantas bacoradas que ouvimos na comunicação social. Como muito bem se recordam, na semana passada, aqueles que, como eu, apreciam a competência e o rigor, rejubilaram na noite das eleições. Mas logo no dia seguinte regressámos à normalidade das nossas vidas e atentamos para um pequeno debate que se tem desenvolvido ao longo de meses, mas que, por abundância de outros interesses, acabou por ficar escondido nos programas que ninguém vê, e que passam ao domingo à noite, na 2:.

Trata-se do regresso da questão da energia nuclear: se é segura ou não, se devemos construir uma central ou nem por isso, quanto custa, quanto não custa, o que fazer ao lixo, e quem poderia investir nisso. Segundo, parece, nós por cá mantemos nossa firme convicção de não querer por cá essa coisa, pese embora já termos sido um país produtor de urânio. Mas parece, também que já alguém se deu conta que, do modo como vamos tratando as fontes de energia renováveis, nunca mais na nossa vidinha iremos conseguir fazer com que um terço da nossa energia venha de fontes que não o carvão e o petróleo.

- e o que podemos fazer acerca disso? - Perguntou o Zé

- bem, podemos meter praí uma central nuclear e resolvemos isso de uma assentada. - respondeu o Manuel

Ora, falidos como estamos e como vamos estar nos próximos anos, não seria de espantar que o governo tenha recusado a construção de um bicho desses nos próximos tempos. Mas a questão levanta-se: se temos boas condições para o aproveitamento da energia do vento e das ondas? Se com um investimento menor que a Ota e o TGV podíamos ser um dos principais produtores de hidrogénio não poluente? Então porque carga de água iremos nós construir um bicho feio e inestético, que ainda por cima usa como matéria prima um mineral que já não se apanha por cá? E isto para não falar da biomassa, já que a incorporação de uma central deste tipo nas imediações do palácio de S. Bento seria o quanto bastasse para nos colocar como exportador de energia!

Mas ao que parece, a megalomania dos nossos governos, que pensávamos já estar curada desde o tempo d'el rei D. João IV, parece continuar, absorvendo, como uma esponja quaquer gota de sanidade nas nossas politicas.

27 janeiro, 2006

Desconcertante e Tranquilizante

Mais uma passagem pelo JN e reparei no aumento do número de cartões Visa em Portugal. Aliás, não se trata meramente do aumento do número de cartões, mas antes o facto de neste momento haverem mais cartões do que portugueses neste país.


Felizmente, a maioria dos cartões em circulação são de débito e o consumidores que preferem usar o cartão de credito ainda assim saldam quase sempre os valores no vencimento do empréstimo... e por aqui termina a parte tranquilizante! A verdade é que a existência de um cartão Visa na carteira continua a ser um sinal de boa credibilidade financeira que nós, portugueses de boa gema, não dispensamos mostrar ao empregado de balcão. Já quando falamos ao crédito em geral, continuamos a coleccionar famílias cujo pagamento dos créditos superabunda sobre o dinheiro recebido ao fim do mês, ou pelo menos, daquilo que se declara sobre esse tal dinheiro.


E isto para não falar de um deficit orçamental que continua a transparecer nas nossas contas públicas desde há tantos anos.... Ora, supostamente, um país deveria garantir que o ganho dos impostos deveria ser o quanto bastasse para garantir não só o pagamento das despesas correntes do estado, com também para garantir a natural evolução desse serviço em conformidade com a evolução da população. Nisto, ficaria esse tal deficit no orçamento ligado, acima de tudo, a despesas extraordinárias, como seja a construção de infraestruturas, apoio a eventos de interesse público, e todas as demais coisas que, ou viessem fossem do interesse do bem comum, ou pudessem vir a trazer, directa ou indirectamente lucro ao estado. Mas vejamos então o que pode ter acontecido para este desastre, sem pôr em causa a dignidade e sentido de dever público dos nossos digníssimos e responsabilissímos governantes. Por um lado, podemos ter ficado com uma máquina de administração pública mais cara que o serviço que presta, ou então, demasiado grande para a população que temos. Por outro, também é verdade que o investimento público é ainda a maior fatia do dinheiro investido em Portugal, no que se traduz um excessivo peso do estado na economia. E se todo esse investimento não se traduz num aumento das receitas do estado? E se o bem comum não for bem avaliado? E depois querem esses senhores que paguemos impostos a dobrar? E só pelo que comemos e bebemos temos que lhes oferecer um quinto do que conseguimos produzir? E porque não o estado pedir para si próprio um cartãozinho da Visa, e comprar os seus comboios e aviões, e autoestradas e submarinos com Visa, e, como qualquer um de nós, esfalfar-se para poder pagar a conta do cartão quando o fim do mês bate à porta?

Talvez assim resolvessemos alguns dos nossos problemas... Talvez o orçamento de estado devesse aceitar Visa...

25 janeiro, 2006

Noticias, Letónia e o Orçamento Europeu

Não fosse o Jornal de Noticias publicado esta pequena novidade, e ninguém saberia que temos entre nós o Excelentíssimo Senhor Primeiro Ministro da Letónia, o qual – segundo parece – está tão reocupado com as contas do orçamento europeu como nós, ou melhor dizendo, os nossos governantes.


Ora, se nem sempre podemos concordar com os nossos ministros quanto à prática, a verdade é que neste caso, deveríamos estar em sintonia com ele quanto às preocupação. Naturalmente que não estou a falar da sua preocupação em arranjar um sítio bacano para passar férias sem que cá a malta note. Estou a referir-me ao pessadíssimo orçamento europeu: para quem não está muito a par da organização europeia, vamos lá ver se o consigo explicar. Como o leitor deve saber, lá em casa existem dois tipos de pessoas, quem tem a massa e quem a não tem. O que o leitor não deve estar habituado a fazer lá em casa é um plano anual que diz quanto é que cada pessoa que tem massa tem de dar a cada pessoa que não tem massa. Basicamente o orçamento europeu também é assim... não esquecendo, é claro, o cachet dos deputados europeus, dos comissários europeus, das secretárias, dos motoristas, da mulher das limpezas do parlamento e do gabinete dos senhores comissários, de tudo o mais que possa encontrar com a bandeirinha da U.E. hasteada, pintada, timbrada ou colada.


Quanto a nós, Portugal e Letónia, o questão é bem mais simples: como estamos no grupos dos que não têm massa, esperamos pelo orçamento europeu como um puto espera pela surpresa de um ovo kinder. Honestamente, até sabemos que não estamos à espera de um carro telecomandado nem de uma barbie, mas venha de á o que vier, sabemos que nos vai manter entretidos a fazer umas coisas engraçadas por mais algum tempo.

23 janeiro, 2006

Português Suave

Critica! Critica, sarcasmo e jocosidade é o que pode o leitor esperar desde blog. Este blog é um verdadeir calmante, um espaço onde criticar, com bastante ironia e sacrasmo, todas asquelas decisões e falinhas mansas que palmilham a vida pública portuguesa. É o meu prazer pessoal poder dar aos leitores a primeira pedra para que vossas excelências possam deleitar os vossos dedos na escrita jocosa.